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domingo, 10 de outubro de 2010

O essencial...


Olhei para a minha idade e descobri que, provavelmente terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como um menino a quem lhe deram um chupa-chupa. A princípio chupa de forma displicente, mas, quando percebe que desaparece depressa, começa a chupar mais devagar.


Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Não tolero gabarolices. Não suporto invejosos a tentar destruir amigos e colegas, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.


Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para aturar pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.


Não quero ver os ponteiros do relógio a avançar em reuniões de "confrontação", onde, muitas vezes apenas "se lava roupa suja".


Mário de Andrade afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Já não tenho tempo para debater rótulos, quero a essência, a minha alma tem pressa...


Quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir dos seus erros, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado da verdade e do Bem.


Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor sem fraudes, pois assim, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.

Estejamos vivos!


"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco" E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da Chuva incessante, Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!»

Pablo Neruda