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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Algumas dicas para um relacionamento saudável com os alunos


Este pequeno texto tem como objectivo ajudar os professores a lidar com a faixa de alunos mais incompreendidos e maltratados do sistema de Ensino em Portugal, também conhecidos pelos “filhos da Ministra”.

Não se trata de uma receita e por isso estou aberto a críticas e sugestões, se as houver. O propósito é corrigir eventuais desvios de comportamento dos professores, perante determinadas situações reais, comprometedores para o futuro de uma parte dos discentes, e de suas famílias, que tanto sacrifício fazem para frequentar uma escola.
São algumas questões, mais frequentes, e sobre elas amanhei os alvitres que me pareceram mais coerentes.

1 - Quando o(a) aluno(a) chega atrasado(a).

O melhor é mandá-lo entrar, e averiguar dos motivos do atraso. Procure sobretudo saber se a família ficou bem em casa, e verifique se arfa, mesmo que levemente, devido à pressa com que, com certeza, se dirigiu para a aula. Pergunte se não quererá um copo de água, e descansar um bocadinho no recreio, ou mesmo ali debruçado sobre a mesa. Se já marcou a respectiva falta, releve-a, para que o aluno numa próxima oportunidade, não se sinta pressionado.

2 - Quando o(a) aluno(a) pede para ir lá fora, ainda mal acabou de entrar na sala de aula.

Se isso acontecer, mesmo que tenha acabado de entrar, seja compreensivo, ele pode muito bem estar com necessidade de fazer alguma necessidade que não fez durante o intervalo, devido ao facto de ter tido coisas mais importantes para fazer. É sabido que o curto lapso de tempo, que é o interregno entre aulas, mal dá para namorar um pouco ou mastigar um pastel de nata. Na dúvida deve sempre deixar o aluno sair, porque é regra de ouro que, na dúvida, impera sempre a vontade dos alunos.

3 - Quando o(a) aluno(a) não está a prestar atenção ao que o docente está a dizer.

Quando o aluno está “ausente” questione-o, no sentido de saber, se essa “ausência” tem alguma coisa a ver com preocupações da sua vida familiar, amorosa, social, ou outra. Pergunte-lhe em que estava a pensar e ajude-o na medida do possível.
Ofereça-lhe boleia para casa, no fim das aulas, e no percurso pergunte-lhe se é problema de dinheiro. Se for, empreste-lhe a quantia que achar razoável para que ele resolva os seus problemas mais urgentes.

4 - Quando o aluno está permanentemente virado para trás.

Nestes casos convém verificar se o aluno está na última fila ou nas outras mais à frente. Se estiver na última fila pode tratar-se de síndrome de perseguição, uma vez que atrás dele, presumivelmente, não está ninguém, embora ele imagine que está, e daí virar-se. Assinale o facto, e na 1ª oportunidade transmita o sucedido ao DT a fim de que ele proceda em conformidade, porventura comunicando o caso à Equipa de Educação para a Saúde. Se ele estiver numa das filas à frente da fila de trás, não é preocupante, espere que ele termine a comunicação de algo inadiável, que estará a fazer para o colega à sua retaguarda, advirta-o para o perigo de se voltar bruscamente, por causa dos torcicolos. Se por acaso se verificar mesmo o torcicolo, não caia na tentação de lhe torcer o pescoço no sentido contrário porque, apesar da sua boa vontade, podem acusá-lo de agressão a jovem indefeso.

5 - Quando o(a) aluno(a) pede para ir “mijar”.

Se o aluno lhe pede para ir “mijar”, pergunte-lhe delicadamente se o que ele quer mesmo não é, “ir urinar”. Se reagir com espanto, inquirindo-lhe: “ir fázer o qué?!”, explique-lhe pacientemente que urinar é sinónimo de fazer xi-xi e que um menino educado não diz “mijar”. Quando muito poderá dizer “realizar uma micção”, ou ainda, na pior das hipóteses, usar um diminutivo popular, dizendo que vai fazer uma “mijinha”.
Se ele não perceber, ilustre a situação no quadro, ou então exemplifique você mesmo, com todos os pormenores, ao vivo e a cores.

6 - Quando o(a) aluno(a) pede para ir comer.

Se o aluno lhe pedir para ir comer, procure informar-se se é a 1ª refeição que ele vai tomar nesse dia, e sendo, aconselhe-o sobre o que deve comer para não lhe cair “fundo” no estômago. Diga-lhe também que não coma à pressa porque comer à pressa faz mal. Que não se preocupe com o tempo, porque a aula pode esperar, o essencial é a saúde. Aconselhe-o(a) a mastigar os alimentos, pelo menos 35 vezes, a fim de que o bolo alimentar fique devidamente preparado para ser recebido pelo seu delicado estômago.

7 - Quando o(a) aluno(a) boceja.

Segundo o povo, bocejar pode ter dois significados, ou se está com sono ou com fome. Procure saber qual das situações tem a ver com o bocejo, ou, o que pode ser mais grave, se for o caso das duas. Se for fome, procure saber a que se deve, porque pode ser um problema de falta de dinheiro e isso é uma situação grave e preocupante. Neste caso não hesite em disponibilizar uma pequena verba ou empreste o seu cartão da escola para que o aluno se possa alimentar. Participe depois o sucedido à Direcção da escola e entregue o talão da despesa, pode ser que haja verba para lhe restituírem o dinheiro emprestado.
Se for sono aconselhe-o a “encostar-se” um pouco na mesa e fale mais baixo, tendo em atenção os conselhos do ponto seguinte…

8 - Quando o aluno(a) dorme na aula.

Quando o aluno dorme na aula, não o acorde. Modere o tom de voz, procurando um registo mais grave e reduzindo um pouco o volume. No entanto, antes do toque de saída procure saber se ele dormiu o suficiente na noite anterior, se teve insónias devido à escola, se tem algum problema familiar ou coisa do género. Assegure-se de que, em última análise, não existirá algum problema de saúde associado. Na dúvida comunique o caso à Equipa de Educação para a Saúde.

9 - Quando o(a) aluno(a) se levanta e, sem motivo aparente, vai até à janela.

O aluno vai fazer aquilo que em gíria se chama, “laurear a pevide”. E como esta juventude precisa de “laurear a pevide” como a boca precisa de pão, não fique preocupado, ele foi ver o que se passa no recreio e logo, logo regressa ao seu lugar com muito menos vontade do que tinha, quando inopinadamente se ergueu e foi à janela. Com um bocadinho de sorte, pode ser que daí a mais um pouco se deixe dormir, para só acordar próximo da hora de acabar a aula.

10 - Quando o(a) aluno(a) fala alto com o colega do lado.

Faça um compasso de espera, sorria levemente com ar benevolente para que o aluno não se melindre. Deixe que ele acabe a conversa e pergunte delicadamente se pode continuar. Perante a resposta afirmativa agradeça o gesto e continue a sua explicação sobre a matéria. Interrompa sempre que o acto se repita e reitere o mesmo procedimento. Não mostre enfado.

11 - Quando o(a) aluno(a) o(a) manda para o “c___alho”.

Se o aluno o mandar para o c___alho, reaja com calma e pense que algum motivo ele há-de ter para se insurgir dessa forma. Não esqueça um velho princípio comercial que diz que o cliente tem sempre razão, e sendo os alunos os nossos clientes, não é preciso dizer mais nada. De qualquer forma explique-lhe que ele está a reagir de cabeça quente e que não são modos próprios para se dirigir ao professor.

12 - Quando o(a) aluno(a) grita no Hall de entrada da escola.

É bom sinal, os alunos estão a extravasar toda a energia acumulada durante um dia, resultante da pressão de tanto estudo. É um escape necessário, devemos por isso aconselhá-los a gritar ainda mais alto para abrir completamente os pulmões.

13 - Quando o(a) aluno(a) grita com a(o) funcionária(o).

Alguma o funcionário lhe fez. Devemos certificar-nos dos motivos e participar do funcionário à Direcção para que esta proceda em conformidade. Uma boa proposta será deixar o Pavilhão sem funcionário, porque assim corta-se o mal pela raiz.

14 - Quando o(a) aluno(a) solta um gás.

Quando o aluno solta um gás devemo-nos por a jeito e com as fossas nasais bem desobstruídas, a fim de que o mesmo cause o efeito desejado por quem o solta, de contrário será uma desilusão e a última coisa que devemos fazer, com os alunos, é desiludi-los. Quando o gás vem com pressão suficiente para provocar som audível, não devemos evitar que todos os outros alunos se riam, devemos, pelo contrário, incentivar e rir muito também, promovendo assim uma verdadeira alegria no trabalho. Mas atenção! O professor está terminantemente proibido de gasear. A liberdade tem limites!

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