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sábado, 20 de novembro de 2010

Educação Multicultural.


«Se reflectirmos ponderadamente, será fácil apercebermo-nos que num país tão pequeno como o nosso, os habitantes das diversas regiões possuem costumes diferentes, pronunciam algumas palavras de forma diferente, acreditam em coisas diferentes... Se convivemos todos em harmonia há tantos anos, qual é a justificação para não aceitarmos outras pessoas, quando a base desse argumento é a diferença, que afinal tanto nos une?» Nogueira (2001)


Educação multicultural significa o conjunto de estratégias baseadas em programas curriculares que expressem a diversidade de culturas e estilos de vida, tendo em vista promover a mudança de percepções e atitudes que facilitem a compreensão e a tolerância entre indivíduos de origens étnicas diversas.
O professor encontrará sempre diversidade entre os alunos das suas classes seja qual for o contexto onde desenvolva a sua actividade. Essa diversidade pode expressar-se através de diferenças socioeconómicas, culturais, linguísticas, de cor de pele, de género e outras.
A diferença é, assim, um dos principais factores a ter em conta na acção da escola e dos professores.
Após a descolonização essa diversidade cultural tornou-se um fenómeno de importância crescente na sociedade.
A desigualdade tem sido a prática. Os professores em contextos escolares e etnicamente heterogéneos tendem a afirmar que tratam todos os seus alunos da mesma maneira e que para eles são todos iguais. No entanto estas frases não são compatíveis com práticas orientadas para responder às necessidades e interesses individuais definidos em função da raça, etnia ou classe social e assim promover a igualdade de oportunidades entre todos. Um aluno desfavorecido é em geral entendido através das suas desvantagens económicas, sociais... e raramente através de desvantagens ligadas à raça, à condição de imigrante, a situação de clandestinidade, às diferenças culturais, linguísticas etc.
Com efeito o percurso escolar dos alunos pertencentes a minorias étnicas é em geral mais difícil e desvantajoso do que o percurso escolar dos alunos pertencentes à cultura dominante. Os conhecimentos, as competências, os valores e atitudes mais valorizados pelo mercado de trabalho são as características da sua cultura, ou seja, os que a escola mais privilegia. Os outros alunos pertencentes às minorias é exigido que sejam bilingues e biculturais para que possam participar nas actividades escolares e tenham direito ao sucesso educativo. Desta forma os alunos não pertencentes ao grupo cultural dominante estão em desvantagem e as suas expectativas e motivação académicas tendem a ser baixas. Também a expectativa dos professores em relação ao sucesso destes alunos tendem a ser baixas, com efeitos negativos nas expectativas, na auto-imagem, nas motivações e consequentemente, na integração e no sucesso escolares desses alunos.

Quais as verdadeiras barreiras ao sucesso?

Prevalece ainda no senso comum a ideia que as capacidades intelectuais dos indivíduos variam em função da raça a que pertencem.
A importância do contexto familiar para o sucesso escolar. As características e o funcionamento da família variam em função dos contextos culturais e socioeconómicos. Algumas pessoas consideram como desviantes certas situações no seio de famílias pertencentes a minorias étnicas, quando na verdade são traços culturais da própria cultura. Os professores desta forma subestimam as capacidades dessas crianças.
As desvantagens socioeconómicas afectam particularmente as famílias pertencentes a minorias étnicas e, em consequência as aprendizagens escolares. O facto de o professor enfatizar as desvantagens sociais daquelas crianças pode levá-lo a atitudes de desistência ou de demissão do seu dever profissional de proporcionar a todos os alunos condições para o sucesso educativo.
A dificuldade no domínio da língua, na escola, é um factor de insucesso. Tem sido dada pouca importância aos problemas de aprendizagem e outros efeitos marginais (na auto-estima, na auto-confiança, etc) decorrentes das dificuldades linguísticas que se levantam às crianças africanas que falam o crioulo, por exemplo.
Os factores relacionados com as estruturas e processos escolares. A insuficiência e inadequação dos materiais, a organização de tempo e espaço, formas de planificação, ausência de mecanismos adequados de apoios e complementos educativos etc, são causas do insucesso. A organização e projecto global da escola devem considerar em todos os seus domínios de acção a sua natureza multiétnica. O investimento de um ou alguns professores no sentido de práticas de educação multicultural tende a perder-se quando a escola como um todo não está organizada em função da diversidade da população.
As expectativas dos professores em relação à progressão dos alunos têm muita influência na aprendizagem. Os professores tendem a conceber perfis de bons alunos. Quanto mais distante estiver dessas referências, menor serão as expectativas do professor em relação às suas aprendizagens, menor será o esforço e dedicação do professor em favor do aluno, afectando a sua auto-estima, auto-confiança e portanto a sua motivação.
É necessário tomar iniciativas adequadas e realistas tendo em vista facilitar a integração daqueles alunos através de:
- apoios suficientes em recursos humanos, materiais e financeiros às escolas;
- currículos desafiadores de práticas de educação para a igualdade; - apoio à formação do professor para desenvolverem práticas de educação para a igualdade.

No entanto, acredito que todas as pessoas, sendo assim como são - distintas - são especiais e interessantes na sua maneira de ser. Devemos valorizá-las e temos que aprender a conviver com as diferenças. E é essa mensagem que a escola tem de trazer aos seus educandos a respeito deste fenómeno de nosso mundo globalizado.

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